Como lidar com a culpa ao levar um familiar para uma ILPI?

Tomar a decisão de levar um familiar para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), também conhecida como casa de repouso, não é fácil. Muitas vezes, ela vem acompanhada de sentimentos dolorosos, especialmente a culpa. Mas é importante entender que esse sentimento é comum, compreensível — e, acima de tudo, pode ser ressignificado.

Por que sentimos culpa?

A culpa costuma surgir quando associamos a institucionalização a abandono. Isso acontece porque, culturalmente, o cuidado com os pais ou avós é visto como uma responsabilidade direta da família. Ao pensar em levá-los para uma ILPI, muitas pessoas sentem que estão “falhando” nesse dever.

No entanto, essa visão ignora a complexidade da vida moderna: famílias que trabalham fora em tempo integral, a falta de preparo técnico para lidar com doenças como Alzheimer ou mobilidade reduzida, e a ausência de rede de apoio emocional e prática. Nesses casos, buscar uma ILPI pode ser, na verdade, um gesto de amor e proteção.

ILPI não é abandono: é cuidado especializado

Instituições sérias e comprometidas oferecem muito mais do que abrigo. Elas garantem alimentação balanceada, acompanhamento médico, fisioterapia, recreação, medicação controlada e atenção 24h por dia. Muitas vezes, é mais seguro e saudável para o idoso estar em um ambiente assim do que em casa com cuidados improvisados.

Além disso, a ILPI também protege a família. Cuidar de um idoso em casa, especialmente quando há necessidades especiais, pode gerar sobrecarga emocional, física e até financeira. E quando o cuidador adoece, quem cuida de quem cuida?

Como ressignificar a culpa?

Sentir culpa é natural, mas é possível trabalhar esse sentimento de forma saudável. Veja algumas reflexões e atitudes que podem ajudar:

1. Relembre os motivos da sua decisão

Você buscou o melhor. A escolha foi feita com base no bem-estar do seu familiar, não por egoísmo. Relembre: você quer segurança, conforto e atenção profissional para quem você ama.

2. Mantenha o vínculo ativo

Levar alguém para uma ILPI não significa se afastar. Visite com frequência, participe de atividades, acompanhe os cuidados. A presença da família é insubstituível e muito valorizada, mesmo nesse novo formato.

3. Converse com a equipe da ILPI

Compartilhe suas angústias com os profissionais da instituição. Eles estão acostumados com essas situações e podem oferecer escuta, acolhimento e até suporte psicológico.

4. Busque apoio emocional

Conversar com um psicólogo, grupo de apoio ou pessoas que passaram pelo mesmo pode ser fundamental. Muitas vezes, perceber que você não está sozinho(a) já alivia parte da dor.

5. Esteja aberto a mudar de opinião

Se você sentir que a ILPI escolhida não está atendendo às necessidades do seu familiar ou não respeita os valores da sua família, tudo bem reavaliar. O importante é buscar o melhor, sempre.

A família continua sendo essencial

Mesmo com todos os cuidados técnicos e humanos que uma ILPI oferece, o papel da família nunca desaparece. O idoso precisa sentir que não foi esquecido. A afetividade, os momentos de convívio e o vínculo emocional com os filhos, netos e amigos continuam sendo insubstituíveis.

Muitos estudos mostram que idosos que recebem visitas frequentes têm mais motivação para participar das atividades, apresentam melhora no humor e até melhoram o apetite. O amor da família potencializa os cuidados da instituição.

E quando o idoso resiste?

Em muitos casos, a decisão é ainda mais difícil porque o próprio idoso não aceita a mudança. Isso pode gerar tensão, conflitos e, mais uma vez, sentimentos de culpa. Nesse momento, o diálogo amoroso, gradual e respeitoso é fundamental.

Explique as razões com carinho, escute as angústias da pessoa idosa e, se possível, envolva profissionais como psicólogos ou assistentes sociais para mediar o processo.

Você também pode convidar o familiar para visitar a instituição, conhecer os cuidadores e participar de uma atividade antes da mudança definitiva. Isso ajuda a reduzir a resistência e favorece a adaptação.

Conclusão: cuidar também é saber quando pedir ajuda

Escolher uma ILPI pode ser uma das formas mais responsáveis de garantir a saúde, o bem-estar e a segurança de quem você ama. Sentir culpa faz parte, mas não precisa ser um peso eterno. Ao transformar a culpa em ação, presença e carinho, você mostra que o cuidado continua — só mudou de forma.